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Nova biografia sobre Frank Sinatra desfaz mitos criados em torno do cantor

Japão, dezembro de 1994. A plateia do Fukuoka Dome parece hipnotizada. No palco, um tipo sedutor com cabelos grisalhos, terno impecável, gravata borboleta, lenço vermelho no bolso esquerdo do paletó prepara-se para cantar One for my baby (and one more for the road): "Esta é uma canção maravilhosa", ele diz. O arranjo introdutório do piano é suave. Enquanto isso, o galã, conhecido como A Voz, coloca um cigarro na boca e o acende como se estivesse em um cômodo qualquer da própria casa. O microfone entre os dedos. Os olhos azuis parecem distantes, fitando o infinito. Ele tira o cigarro da boca e recita os primeiros versos da bela música de Harold Arlen e Johnny Mercer. Sim, apesar da idade avançada e o cansaço perceptível, ainda é Sinatra. E essa foi a última apresentação pública do garoto de Hoboken, que morreria quatro anos depois.

Para entender como Frankie chegou ao derradeiro concerto em Fukuoka, é preciso conhecer de perto a trajetória do homem que encantou (e azucrinou) multidões com temas inesquecíveis, charme e muita confusão. Quem se comprometeu a contar essa história foi o romancista e jornalista James Kaplan, autor da biografia Frank: a Voz – lançada em maio pela Companhia das Letras.

Uma citação de Che Guevara – embora alguns a atribuam a Adolfo Bioy Casares – afirma que "uma boa biografia é aquela que consegue instigar até um alienígena perdido na Terra, mesmo que ele nunca tenha ouvido falar do biografado". O livro de Kaplan sobre Frank Sinatra é memorável justamente por conta dessa capacidade de encantar leitores, mesmo aqueles que pouco escutaram a obra de Frankie. "É uma biografia que se lê como um romance", acrescenta o crítico Michiko Kakutani.

De fato, Kaplan se mostra muito criterioso ao apresentar A Voz. O parto complicado de Dolly – mãe de Frankie – que deixou cicatrizes no rosto (e na personalidade) do cantor; os primeiros dias da família Sinatra em Hoboken, Nova Jersey; o início de uma carreira repleta de baladas, fãs enlouquecidas, altos e baixos. Kaplan acompanha, em bom estilo jornalístico, os primeiros quarenta anos da vida do filho de imigrantes italianos. Há, obviamente, os aspectos encantadores do jovem e habilidoso crooner, mas o escritor não censura o lado obscuro e agressivo de Frank: rapaz preguiçoso que não queria sujar as mãos – ele gostava de lavá-las várias vezes ao dia –, que deixou a escola para ser um astro difícil e possuir amizades duvidosas: à guisa de exemplo, mafiosos italianos.

Ao terminar de ler A Voz, a impressão que se tem é de que Frank Sinatra era um camarada instável, acessível aos pares – quando lhe convinha –, repleto de talentos, mulherengo, inquieto, amoroso, egocêntrico, um gênio musical com ouvido requintado e ações explosivas. Mas um astro imperfeito ainda é um astro. Kaplan decifra o artista com tamanha maestria que, depois da última página, o leitor pode até chamar um dos maiores cantores do século 20 de Frankie.

O livro:
Frank: a Voz
James Kaplan
Companhia das Letras
R$ 69

Fonte: Correio Braziliense

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